Abuso sexual, uma marca na alma
Altamir Vieira
Traumatizadas pela violência sexual e ainda com mal-estar físico e psicológico, as vítimas, principalmente as crianças, passam pelo tormento de serem ouvidas por vários órgãos. Na Justiça, quase sempre sem orientação de um psicólogo, têm de depor na frente do juiz, promotor, advogados, parentes, escrevente e até do agressor, que, não raro, costuma alegar ter havido relação consensual.
A sem-vergonhice é tamanha que já existem pesquisas nacionais e internacionais sobre o fenômeno. O que pouco se sabe é como preveni-lo e a qual tratamento é submetido o covarde agressor.
Pesquisa realizada por psicólogos da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Goiânia revela que o estupro é um dos crimes que mais mexe com o emocional das vítimas e que o sentimento intenso de raiva permanece durante e depois do ocorrido.
O pior é que os responsáveis em grande parte são chefes, pais ou padrastos que, como exercem certa autoridade, não recorrem a armas. O acompanhamento psicológico e social é por demais importante para ajudar a superar o trauma, já que a violação faz com que a pessoa se desligue da vida e até perca qualquer expectativa em relação ao futuro.
Nos últimos tempos, a lei também tem sido alterada, passando a estabelecer novos conceitos para os diversos tipos de delito. Assim, há pouco tempo, a dona de uma escola em Senador Canedo foi condenada a 15 anos de reclusão por estupro de vulnerável contra um estudante de 3 anos.
Estupro de vulnerável é considerado pela prática de qualquer ato libidinoso com menor de 14 anos, ou com pessoa (de qualquer idade) que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento, ou não pode oferecer resistência.
Além da legislação, a própria Justiça está criando mecanismos de audiência especial para crianças. Em São Paulo, o Tribunal de Justiça implantará ainda neste mês em quatro cidades o método destinado a ouvir, sem traumas, a versão de crianças ou adolescentes vítimas ou testemunhas de crimes sexuais ou maus-tratos.
Esse método tenta quebrar o sofrimento pela qual passa uma vítima no sistema tradicional, que pode ser mais traumático do que o próprio crime sofrido.
Altamir Vieira é jornalista
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